Metafísica da linguagem ou crítica da retórica política
Breves excertos iluminados do Tratado que estabelece uma Constituição para a Europa
1- O Lirismo da vocação colonial. Os políticos mostram aqui que são também filósofos da história.
"Inspirando-se no património cultural, religioso e humanista da Europa, de que emanaram os valores universais que são os direitos invioláveis e inalienáveis da pessoa humana..." (Prólogo)
Universais extraídos a ferro e fogo do sacrifício das singularidades outras. Da barbárie "emanava" o trabalho escravo que dialecticamente fez brotar dos corpos colonizados esta verdade eterna do Espírito, agora realizada diante de vós pela prestidigitação, perdão, pela transfiguração verbal e verbosa do Verbo.
Crítica nominalista do universal: a universalidade é um nome que se emprega para designar a violência do singular sobre o singular.
2- A Europa ou a Nau de Ulisses. Aqui temos o esplendor do "regresso a si" do Espírito, a hipoteca do corpo à memória e à imagem do futuro. O político como animal hegeliano.
"... cientes das suas responsabilidades para com as gerações futuras e para com a Terra, prosseguir a grande aventura que faz dela [Europa] um espaço privilegiado de esperança humana." (Prólogo)
3- A arte do oxímoro:
"A União (...) vela pela salvaguarda e pelo desenvolvimento do património cultural europeu." (Parte I, Título I, Artigo I-3.º, 4)
Unidade do incompatível. Aqui o político revela-se um cultor da dialéctica: unidade dos opostos, movimento contraditório do real. A cultura é por definição algo impossível de "salvar", a não ser que se isole completamente de toda a causalidade externa, ou seja, todo o factor de desenvolvimento, que é o movimento próprio de mutação (morte) da cultura. A frase pode ser reconduzida a estroutra: "velamos pela salvaguarda da tradição em barrancos, mas asseguramos o fim das touradas"
4- A arte do non-sense
Esta é simplesmente incomentável. Aqui o político revela a sua vera maestria barroca na modelagem conceptual.
"A União empenha-se no desenvolvimento sustentável da Europa, assente (...) numa economia social de mercado altamente competitiva" (Parte I, Título I, Artigo I-3.º, 3)
Finalmente, para obviar à universalidade e à vocação universalista. Eis um texto ainda actual para reflectir a questao dos "direitos", da abstracção e da singularidade. (aviso aos mais susceptíveis: contém doses de metafísica materialista explícita)
http://www.marxists.org/archive/lafargue/1900/xx/horse.htm
spinozaisadog
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