O Sítio do Também Não

Conta-se que certa vez, Alexandre, o Grande, se deparou com Diógenes na rua e lhe disse: “Eu sou Alexandre, o grande rei”. Ao que Diógenes lhe respondeu: “E eu sou Diógenes, o cão”.

terça-feira, maio 31, 2005

2 Dias Depois

Dois dias depois do referendo francês as reacções vindas do campo do SIM têm-se organizado em torno de quatro argumentos (esqueço voluntáriamente os discursos descabelados contendo apenas insultos: estúpidos, mesquinhos, medrosos, xenófobos):

1. O NÃO dirigiu-se exclusivamente aos políticos franceses e nem um único argumento contra o tratado foi usado. Não? Para além de não se saber como é possível separar a ordem interna da comunitária, não é um argumento contra o Tratado considerar inaceitável a imposição, por via constitucional, de um modelo económico liberal tornando impossível qualquer outra opção?

2. O NÃO é contra a Europa. Contra a Europa? Mas, pode ser-se contra a Europa? E porque raio haveria alguém de ser contra a Europa? O que está em causa é o clausulado de um Tratado, havendo pessoas que o rejeitam no todo ou em parte e não necessáriamente pelas mesmas razões, embora pareça claro que a rejeição se deve sobretudo a coisas como a subordinação dos serviços públicos a critérios económico e financeiros (o direito de todos à saúde passa a ser apenas daqueles que podem pagar, etc.).

3. O NÃO é contra o sentido da História. Estamos a cumprir as estações da via sacra até à redenção? A história não é o simples agir na duração? Em todo o caso, se há um sentido da História os SIM não têm qualquer motivo de preocupação, pois ele cumprir-se-à independentemente daquilo que fizermos. Ratzinger não argumenta melhor...

4. Com a vitória do NÃO rejubilam Washington, Pequim e Nova Deli. A construção de um espaço unificado para concorrer directamente num mercado aberto implica independência total em matéria de política externa e de defesa e jogar com as mesmas armas que os adversários nos planos social e económico. Se a política de defesa está indexada à política da OTAN, onde mora a independência? E vamos construir uma superpotência militar? Vamos produzir os nossos próprios intocáveis? É que Bronx e Harlem já temos ... e que praça europeia será a nossa Tiannamen?
Ora, não são estes outros tantos motivos para o NÃO?

Pessoalmente, entendo a união política da Europa como uma boa ideia para enfrentar os problemas da liberdade e da paz. Contudo, para que valha a pena, para que não se afogue no défice democrático, nos conflitos entre as élites, nos jogos secretos entre potências rivais, para que tudo não acabe em revolta e repressão, é necessário que a construção dessa união resulte da mobilização de todos os cidadãos, do debate livre, sem mediações, entre todos.

É necessária uma Europa construída para a paz e para a liberdade de todos.

Rafeiro Alentejano