Diógenes, o Cão, voltou a deambular pelo Mercado
"Era um cão rebelde, caprichoso, desobediente, mas um de nós, ou, mais do que o nosso cão, um cão que não queria ser cão e era cão como nós"
"Havia muitas coisas que o cão sabia, sem que ninguem lhas tivesse ensinado, por exemplo : nadar!" e passados séculos quando o conhecimento evoluiu, não sabendo já se eu, na qualidade de diógenes ou de cão começámos a ler na como leigos as 324 páginas da Constituição Europeia para as suas quatro partes, às quais se acrescentam 460 páginas para os seus dois anexos, 36 protocolos e 50 declarações, pouco mais nos restou do que aceitar a sugestão de Saramago: "Uivemos então"
E a inspiração para tal chegou-nos através de Bernard Cassen (1): "Inventariando a leitura um cidadão comum experimentará rapidamente um estranho sentimento: o tratado comporta numerosas palavras, elas mesmas muito frequentemente repetidas, mas que são totalmente estranhas ao léxico constitucional. Prestando-se ao jogo e dispondo de bons computadores, descobrirá que, apenas nas quatro partes do tratado, «banco» aparece 176 vezes ; «mercado» 88 vezes ; «liberalização» ou «liberal» 9 vezes ; «concorrência» ou «concorrencial» 29 vezes; «capitais» 23 vezes; «comércio» e seus derivados imediatos 38 vezes; «mercadorias» 11 vezes; «terrorismo» 10 vezes; «religião» ou «religiosos» 13 vezes".(A contagem foi efectuada por Alain Lecourieux, membro do Conselho Científico da associação Attac).
A dúvida instala-se então no amador em palavras: trata-se de uma “Constituição” europeia, que aliás lhe apresentaram como laica, ou antes de algo copiado e colado dos estatutos do Fundo Monetário Internacional (FMI) e da carta da Organização Mundial do Comércio (OMC), ornada com uma chapelada a George W. Bush para o «terrorismo» e ao Vaticano para a «religião»?
Por esta altura já Diógenes o Cão ao passear pelo mercado não teria dúvidas em dizer NÂO aos senhores importantes do Mundo que tal haviam redigido, mas com o que ele não poderia contar é que agora se lhe deparasse uma pequena multidão de foragidos que antes diziam SIM e o rodeassem gritando-lhe também NÂO; por forma que a escolha era agora entre um NÂO e um outro NÂO - e qualquer que viesse a ser o resultado ele serviria sempre os que sempre haviam dito SIM.
Baralhados, os diógenes de agora bem poderiam reeditar o comportamento do Diógenes original quando saiu esbaforido pela mercado afora exclamando enquanto se masturbava: "Àh! se ao menos eu esfregando assim desta maneira a barriga, pudesse tambem matar a fome,,,"
(1) - vidé Bernard Cassen - "o Debate falsificado sobre o tratado constitucional" - artigo publicado no Le Monde Diplomatique
(2) - o Dossier sobre a Constituição Europeia no Indymedia - AQUI
Xatoo
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